O "velho" e o "novo" anarquismo no Piauí

0. Tornamos público por meio deste comunicado, nossa decisão em avançar na organização política dos anarquistas revolucionários no Piauí, e fazer do Círculo de Debates Anarquistas Piauiense um ponto de articulação entre estes para que possamos coletivamente avançar contra os inimigos do povo e interferir direta e coletivamente na luta de classes.

1. A pouco mais de um ano, companheiros e companheiras do extinto Grupo de Estudos Anarquistas do Piauí (GEAPI) decidiram tomar outro rumo no debate político-ideológico do anarquismo no Estado.

2. Nesse período, demos prosseguimento a crítica ao ecletismo que gerou nosso rompimento com o GEAPI e passamos a realizar uma avaliação minuciosa do desenvolvimento do anarquismo em solo piauiense desde os anos 90 até a atualidade, percebendo suas contradições, erros e acertos, dentro de uma análise socialista revolucionária, levando em consideração a experiência histórica nacional e internacional do anarquismo. 

3. Essa avaliação nos proporcionou diversas reflexões, algums públicas, como os textos produzidos por nossa organização, e outras ainda não publicadas, para debate interno do CDA-PI. 
  
4. Percebemos também a ineficiencia do ecletismo em formar bases sociais sólidas para o combate no campo da luta de classes. A contradição se expressa no discurso que supera a prática, que era (e é) nula, ou incipiente. 

5. Assim vimos como necessidade imediata a inserção de nossos militantes em organizações de base, para auxiliar a luta do povo, assim como gerar experiência de resistência, unindo as demandas de caráter reivindicativo ao nível revolucionário.

6. Com essa meta estabelecida e previamente consolidada, impulsionados também pelas contradições que ocorrem em outros níveis, como a falsa polarização do impeachment e a continuidade das perdas de direitos do povo, na educação, na saúde, nos transportes, no trabalho, decidimos por dar continuidade ao debate teórico-político e organizacional de nossa linha.   

7. Hoje, conscientes das tarefas que recaem sobre os ombros dos anarquistas revolucionários, na busca por radicalizar a luta pela causa do povo, combater nossos inimigos históricos e aprofundar a necessária e urgente crítica ao ecletismo, damos um passo a frente na disputa de linha política do anarquismo piauiense, abrindo a possibilidade de ingresso em nossa articulação.

8. Esse ingresso porém, não é feito de qualquer forma. Buscaremos para nossa organização os militantes mais responsáveis, comprometidos e coesos em teoria, política e tática com nossas proposições. Nosso interesse não é ter um "grupo de amigos" que mais ou menos concordam com os mesmos princípios ideológicos, mas sim um grupo qualitativamente preparado, numeroso ou não, para as contradições que a luta de classes impõe ao povo brasileiro. 

9. Acreditamos que recuperar a tradição anarquista revolucionária, isto é, o bakuninismo, é expurgar as contradições do "velho anarquismo" e consolidar as bases da militância socialista revolucionária em um "novo anarquismo".

10. Assim, o Círculo de Debates Anarquistas Piauiense conclama companheiros e companheiras a realizarem a necessária crítica e autocrítica para que o anarquismo saia do memorialismo romântico e utópico e passe a  "novo anarquismo", inspirado na luta histórica do anarquismo revolucionário e classista, em todo o mundo. 

BAKUNIN VIVE E VENCERÁ!
ANARQUISMO É LUTA!



1° de Maio para além do memorialismo romântico

1. Este texto destina-se aos companheiros e companheiras anarquistas na intenção de refletir sobre o primeiro de Maio e sua lembrança encarnada na realidade brasileira.
2. Sequer discutiremos aqui com a fração dos ditos "anarquistas" que não se organizam ou que rechaçam a necessidade de organização. O anarquismo, enquanto ideologia, é composto por colunas de sustentação teórica que contam com o fator de organização, e não pode ser confundido com o liberalismo radical, individualista e pós-moderno dessas frações infiltradas.  
3. É sabido por todos nós, que o 1° de Maio nasce a partir das reivindicações da classe trabalhadora em Chicago, no ano de 1886. Durante uma das várias manifestações combativas que ocorriam naquela cidade, uma bomba foi jogada contra o batalhão policial, que não hesitou em descarregar suas armas sobre a massa proletária na Praça Heymarket. A justiça burguesa logo procurou encontrar "os líderes", assim como faz hoje. Propositalmente, escolheram oito trabalhadores. Oito anarquistas. Oito heróis da classe trabalhadora: George Engel, Samuel Fisher, Adolph Fisher, Louis Lingg, Michael Schwab, Albert Parsons, Oscar Neebey e Algust Spies. Destes, um se suicidou na prisão com uma bomba, três receberam a sentença de prisão perpétua, revogada em 1893, e todos os outros foram enforcados em praça pública. Posteriormente foi comprovado que não haviam provas contra os 8 trabalhadores. Os "Mártires de Chicago" tornaram-se o símbolo da luta pela redução das horas laborais no mundo inteiro, que foram conquistadas ao custo de muito suor e sangue do povo.
4. Na realidade brasileira e mundial, a lembrança dos Mártires de Chicago é, para nós, anarquistas revolucionários, não só importante como estratégica: Aponta politicamente a força histórica de nossa ideologia, a capacidade política das classes trabalhadoras, e a disposição para o enfrentamento pela via da ação direta contra os inimigos do povo. Mas pouco adianta ouvir o bradar de anarquistas a defender que "o primeiro de maio é um dia de luto e luta", e na prática material, comporem a linha política em sindicatos, organizações estudantis e populares com PSOL, PT, PCdoB ou PSTU, para disputar junto a eles o movimento de massas. A memória assim se torna romântica, pois não alcança a realidade e a atualidade da luta de classes no Brasil, além de trabalhar de livre escolha para que tais burocracias avancem contra esses importantes setores organizativos do povo.
5. Além disso, é muito comum no anarquismo brasileiro a perspectiva "ativista": A organização se dá de acordo com a conjuntura do momento, e não é construída com o objetivo de manter-se sólida; O objetivo deve ser conquistado de qualquer forma, embora pouco se percebam suas raízes estruturais e a necessidade de se aprofundar nessas questões, o que demanda mais que o simples imediatismo. Essa prática ativista-imediatista tem produzido em curto prazo, inúmeras frustrações coletivas, e em longo prazo, dissidências em massa, absolutamente convictas de que o "anarquismo não é uma ferramenta revolucionária útil pois falharam em todas as suas tentativas de organização". O ativismo imediatista é nosso inimigo, e um vício a ser esmagado e retirado de nossas fileiras.
6. Para além de um primeiro de maio memorialista e romântico, é preciso construir o Sindicalismo Revolucionário pela base, livre do reformismo e do governismo, organizado em locais de estudo, trabalho e moradia, que se utilize da ação direta para conquistar vitórias e desenvolver experiência reivindicativa entre as massas trabalhadoras, estudantis e populares, para que sob certas condições materiais, o patamar das exigências se eleve, fundindo-se com as reivindicações históricas, isto é, com a perspectiva revolucionária. 
7. O presente é claro: O ajuste fiscal do governo Dilma avança contra o povo, que não reconhece na democracia burguesa uma saída para o problema. Cabe à nós, anarquistas revolucionários, a tarefa de auxiliar na organização desses setores, numa perspectiva classista, independente do jogo da democracia burguesa, e interligadas por uma organização revolucionária, construída pela base, e por isso, sem recorte ideológico, mas que em suas fileiras estejam os mais sinceros e convictos lutadores do povo. É preciso honrar o sangue e o suor de nossos companheiros que tombaram na luta pela causa do povo, não só em palavras, mas em ações. 

PELA LEMBRANÇA DOS MÁRTIRES DE CHICAGO!
VIVA O SINDICALISMO REVOLUCIONÁRIO!
CONTRA O AJUSTE FISCAL, CONSTRUIR A GREVE GERAL!
O POVO VENCERÁ!




"Atamansha - A vida de Maria Nikiforova" disponível para leitura e download.


Tornamos pública a tradução do livro "Atamansha: A vida de Maria Nikiforova". O livro abre uma sequência de traduções que buscam realizar um levantamento histórico da prática do Anarquismo Revolucionário em todo o mundo. Este ciclo de traduções de obras para o ano de 2016 inicia-se agora, e esperamos que os esforços de nossos companheiros e companheiras do Círculo de Debates Anarquistas Piauiense em trazer tais debates para a língua portuguesa auxiliem na problematização e reflexão das práticas e teorias do anarquismo brasileiro. Todas as outras traduções, assim como demais textos desenvolvidos, reproduzidos ou traduzidos pelos membros do CDA-PI serão disponibilizados neste mesmo site, e divulgado por nossa página no Facebook 

Link para download: https://goo.gl/hUhUlY


Esclarecendo os erros sobre Mikhail Bakunin

Este texto é uma tradução do francês, e foi publicado em inglês na Libertarian Communist Review, n. 2, 1976. É uma excelente discussão sobre Bakunin, seu método e seus pontos de vista sobre questões como a dupla organização e a tomada do poder. Por isso, merece mais exposição aos militantes contemporâneos.

Introdução Original (LCR, 1976).
O texto a seguir é uma tradução do francês. Foi publicado no Solidarite Ouvrière, o jornal mensal da Alliance Syndicaliste Revolutionnaire et Anarcho-syndicaliste. Temos muitas críticas ao sindicalismo, e isso inclui a sua variante anarco-sindicalista.

No entanto, o ASRAS, em sua reavaliação do movimento libertário, seu compromisso com a política das classes revolucionárias e uma dialética materialista, representa um dos grupos libertários mais valorosos e progressistas da França, juntamente com a Organisation Cominuniste Libertaire e o Collectif pour un Union des Travailleurs Communiste Libertaire.

As futuras edições da LCR irão conter críticas ao anarco-sindicalismo.

Introdução do CDA-PI
É com orgulho que o Círculo de Debates Anarquistas Piauiense lança mão e deixa pública sua primeira colaboração no nível de tradução para os sinceros militantes anarquistas.

Recolhemos estes texto do site Anarkismo.net, na tentativa de apontar uma dupla realidade: A) A perspectiva de que o bakuninismo não é uma novidade ou invenção estéril e artificial, mas que forja, desde sua gênese, uma análise da realidade baseada em uma dialética dinâmica e em um materialismo que considera todos os fenômenos reais importantes para a constituição do indivíduo e das sociedades, um materialismo sociológico. B) A crítica intrínseca do escrito, levando em consideração as vacilações teóricas e metodológicas do anarquismo após a morte de Mikhail Bakunin.

Além disso, é preciso avaliar historicamente o momento em que o texto foi escrito, fazendo o exercício de perceber na a atualidade as análises, notando suas continuidades e rupturas na realidade material, e em especial, a conjuntura do anarquismo brasileiro. Para auxiliar a leitura desta forma, inserimos em alguns momentos do texto nossas considerações entre colchetes.

Esperamos que o conteúdo desta obra leve a outros militantes ponderarem e questionarem suas próprias ações e decisões, reaproximando-se do anarquismo as suas principais aspirações, sendo também coerente a nível teórico e em sua ação política.

Julgamos que recuperar o bakuninismo enquanto mecanismo de concepção da realidade é recuperar o anarquismo revolucionário, o anarquismo de antes do desmonte da Comuna de Paris, e que aflorou em determinadas organizações ao longo do tempo devido as contradições inerentes do "movimento anarquista" da época. Na perspectiva da Plataforma Organizacional da União Geral dos Anarquistas, “(...) já é tempo de o anarquismo sair do pântano da desorganização, colocar um ponto final nas infindáveis vacilações sobre as questões teóricas e táticas mais importantes, e caminhar resolutamente para o objetivo claramente identificado e realizar uma prática coletivamente organizada”.

BAKUNIN VIVE E VENCERÁ!
VIVA O ANARQUISMO REVOLUCIONÁRIO!
PELA CAUSA DO POVO!


Esclarecendo os erros sobre Mikhail Bakunin
Na véspera do centenário de Bakunin, o retorno de todas as imbecilidades brutas que foram ditas sobre Bakunin exige um trabalho considerável. Sem hesitação, o prêmio de falsificação vai para Jacques Duclos, o ex-chefe do PCF, que dedicou um enorme livro de várias centenas de páginas para discutir a relação entre Marx e Bakunin, que é uma obra de ficção. Agora é tempo de compilar um catálogo de falsificações que cercam Bakunin. Porque, se Duclos detém - com o próprio Marx - o triste privilégio do pensamento de Bakunin, os anarquistas são incomparáveis em serem seus maiores falsificadores inconscientes. Das coisas em comum que os dois líderes da Primeira Internacional tem, a mais importante é, talvez, que seus pensamentos foram deturpados de forma idêntica pelos seus próprios discípulos. Desejamos aqui seguir a análise do desenvolvimento desta deturpação de posições de Bakunin. Posteriormente, explicaremos o que acreditamos ser a sua verdadeira teoria da ação revolucionária.

Bakunin se movimentou continuamente entre a ação de massa do proletariado e da ação das minorias revolucionárias organizadas. Nenhum destes dois aspectos da luta contra o capitalismo pode ser separado: No entanto, o movimento anarquista após a morte de Bakunin dividiu-se em duas tendências que enfatizavam um dos dois pontos, enquanto negligenciava o outro. O mesmo fenômeno pode ser encontrado no movimento marxista com os socialdemocratas reformistas na Alemanha e os socialdemocratas jacobinos radicais na Rússia.

No movimento anarquista [francês das décadas de 60/70], uma corrente defende o desenvolvimento da organização de massas, agindo exclusivamente no âmbito das estruturas da classe trabalhadora, e chega a um estado de apoliticismo completamente estranho às ideias de Bakunin; outra corrente recusa o próprio princípio da organização, vendo neste o início da burocracia: Favorecem a criação de grupos de afinidade dentro do qual a iniciativa revolucionária individual e a ação de exemplo irão facilitar a passagem sem transição para uma sociedade comunista ideal, onde todos produzirão de acordo com seu o seu/sua capacidade e vão consumir de acordo com seu/sua necessidade: Trabalho alegre e consumo a partir da loja comum.

A primeira corrente defende a ação da massa de trabalhadores dentro de uma organização estruturada, a coletivização dos meios de produção e a organização destes em um todo coerente, assim como a preparação dos trabalhadores para a transformação social.

A segunda corrente recusou totalmente a autoridade e a disciplina da organização; taticamente isso é visto como tolerância com o capitalismo. Essa corrente se define de uma forma essencialmente negativa: Contra a autoridade, hierarquia, poder e ação legal. Seu programa político é baseado no conceito de autonomia comunal, diretamente inspirado em Kropotkin, em particular “A Conquista do Pão”. Esta corrente triunfou no Congresso da CNT em Zaragoza em 1936, cujas resoluções expressaram incompreensão dos mecanismos econômicos da sociedade e desprezo pela realidade econômica e social. O Congresso desenvolveu no seu relatório final “O conceito confederal de comunismo libertário”, fundada no modelo de planos organizacionais da sociedade futura que floresceu na literatura socialista do século XIX. A fundação da sociedade do futuro é a comuna livre. Cada comuna é livre para fazer o que desejar. Aquelas que se recusam a serem integradas fora dos acordos de “convivência coletiva” com a sociedade industrial poderiam, “escolher outros modos de vida em comum, como por exemplo, os de naturalistas e dos nudistas, ou teriam o direito de ter uma administração autônoma fora dos acordos gerais”.

Na linguagem de hoje, pode-se dizer que os seguidores de Bakunin podem ser divididos em um “desvio de direita” que é o tradicional anarco-sindicalismo, e um “desvio de esquerda” que é o anarquismo. O primeiro enfatiza a ação de massa, organização econômica e metodologia. A segunda paira sobre os objetivos. “O programa” é bastante independente da realidade imediata. E cada uma dessas correntes reivindica para si - com muita frequência - Bakunin.

Distinguimos quatro principais deturpações do pensamento de Bakunin:

Espontaneísmo
De vez em quando, Bakunin parece cantar os louvores da espontaneidade das massas; em outros momentos, ele afirma a necessidade de uma orientação política das massas. Em geral os anarquistas têm se agarrado ao primeiro aspecto de seu pensamento, e abandonado completamente o segundo. Na realidade, Bakunin disse que o que as massas careciam para emanciparem-se era a organização e a ciência, “precisamente as duas coisas que constituem agora, e sempre constituíram o poder dos governos” (O Protesto da Aliança). “No momento de uma grande crise política e econômica, quando o instinto das massas, muito inflamado, se abre para toda a inspiração feliz, em que esses rebanhos de escravos manipulados, esmagados, mas nunca conformados, rebelam-se contra o jugo, mas sentem-se desorientados e sem poder, porque eles são completamente desorganizados, dez, vinte ou trinta homens, bem intencionados e bem organizados entre si, e que sabem para onde estão indo e o que querem, podem facilmente arrastar com eles uma centena, duas centenas, três centenas ou até mais” (Oeuvres, 6, 90).

Mais tarde, diz ele, da mesma forma, que, a fim de que a minoria de AIT possa levar com eles a maioria, é necessário que cada membro deva ser bem versado nos princípios da Internacional.

É somente nestas condições”, ele diz “que em tempos de paz e calma, eles serão capazes de cumprir eficazmente a missão de agitação e propaganda, e em tempos de combate, a de líderes revolucionários”.

O instrumento para o desenvolvimento das ideias de Bakunin foi a Aliança da Democracia Socialista. Sua missão era selecionar quadros revolucionários para orientar organizações de massa, ou criá-las onde elas não existissem. Era um agrupamento ideologicamente coerente.

É uma sociedade secreta, formada no coração da Internacional, para dar-lhe uma organização revolucionária, e transformá-la, assim como todas as massas populares fora dela, em uma força suficientemente organizada para aniquilar a reação política, clerical, burguesa, para destruir todas as instituições religiosas, políticas, judiciais dos Estados”.

É difícil ver espontaneísmo aqui. Bakunin disse apenas que a minoria revolucionária deve agir dentro da massa, mas não deve substituir as massas.

Em última análise, são sempre as próprias massas que devem agir por conta própria. Os militantes revolucionários devem impulsionar os trabalhadores em direção à organização, e quando as circunstâncias o exigirem, eles não devem hesitar em assumir a liderança. Esta ideia contrasta singularmente com o que posteriormente se tornou o anarquismo.

Assim, em 1905, quando o anarquista Voline foi pressionado pelos trabalhadores russos insurgentes para assumir a presidência do Soviet de São Petersburgo, ele recusou porque “ele não era trabalhador” e para não abraçar autoridade. Finalmente, a presidência caiu para Trotsky, depois de Nossar, o primeiro presidente, que foi detido.

...”O socialismo só tem existência real no impulso revolucionário, na vontade coletiva e nas próprias organizações de massas da classe trabalhadora - e quando esse impulso, essa vontade, essa organização, fica aquém, os melhores livros do mundo não são nada, somente teorias em um vácuo, sonhos impotentes”.

O repúdio à autoridade
Os bakuninistas chamavam a si mesmos de “antiautoritários”. A confusão que surgiu como resultado do uso desta palavra tem se estendido desde a morte de Bakunin. Autoritário na linguagem da época significava burocrático. Os antiautoritários eram simplesmente anti-burocráticos, contra a tendência marxista.

A questão então não era de bons costumes ou caráter e atitude ante a autoridade, influenciadas pelo temperamento. Era numa perspectiva política. Instrumentos antiautoritários eram “democráticos”. Esta última palavra existia na época, mas com um significado diferente.

Menos de um século após a Revolução Francesa, que descreveu as práticas políticas da burguesia. Eram os burgueses que eram “democratas”.

Quando foi aplicada ao movimento da classe trabalhadora, a palavra 'democrata' foi acompanhada por “social” ou “socialista”, como em “socialdemocrata”. O trabalhador que era um “democrata” era também um “socialdemocrata” ou antiautoritário.

Mais tarde democracia e o proletariado foram associados na expressão “democracia proletária”.

A tendência antiautoritária da Internacional se mostrou a favor da democracia proletária, e a tendência qualificada como autoritária, a centralização burocrática.

Mas Bakunin estava longe de se opor a toda autoridade. Sua tendência permitia o poder se vier diretamente do proletariado, e que fosse controlado por ele. Opôs-se ao governo revolucionário de tipo jacobino através do poder da insurreição operária através da organização da classe trabalhadora.
Estritamente falando, isto não é uma forma de poder político, mas de poder social.

Após a morte de Bakunin, os anarquistas rejeitaram a ideia de poder. Eles só se referem aos escritos que eram críticos do poder, e defendiam uma espécie de metafísica antiautoritária. Eles abandonaram o método de análise que veio a partir dos fatos reais. Abandonaram tão longe quanto o fundamento da teoria bakuninista baseada no materialismo e na análise histórica. E com isso abandonaram o campo de luta de classes em favor de uma forma particular de liberalismo radical.

O movimento de classe
A estratégia política de Bakunin não se separou de sua teoria as relações entre as classes. Isto deve ser estabelecido uma vez por todas.

Quando o proletariado encontrava-se fraco, ele desaconselhou a luta indiscriminada contra todas as frações da burguesia.

Do ponto de vista da luta da classe trabalhadora, nem todos os regimes políticos são equivalentes. Não é uma questão de indiferença se a luta é contra o regime ditatorial de Bismark ou o Czar, ou contra uma democracia parlamentarista.

A mais imperfeita das repúblicas é mil vezes melhor que a monarquia mais iluminada”.

Em 1870, Bakunin recomendou o uso da reação patriótica do proletariado francês e sua conversão em guerra revolucionária. Em suas “Cartas a um francês”, faz uma análise notável sobre as relações entre as diferentes frações da burguesia e da classe trabalhadora, e desenvolve com alguns meses de antecipação e profeticamente, o que iria ser a Comuna de Paris.

Uma leitura cuidadosa de Bakunin demonstra que toda sua obra consistiu na investigação constante, as relações que pudessem existir entre as frações que compõem a classe dominante e sua oposição com o proletariado. Sua estratégia para o movimento operário está intimamente ligada às análises destas relações.

Em nenhum caso pode ser abstraído o momento histórico em que estas relações tiveram lugar. Em outras palavras, nem todos os tempos estão maduros para a Revolução, e um conhecimento detalhado da relação de forças entre burguesia e a classe operária lhe permite, ao mesmo tempo, não perder ocasiões adequadas e evitar cometer erros trágicos.

Sucessores de Bakunin pensaram, por um lado, que existia entre a burguesia e o proletariado uma espécie de relação imutável e constante; por outro lado, que a relação entre as classes não poderia de modo algum entrar no esquema das coisas para determinar a ação revolucionária. No primeiro caso, eles adotaram certo número de princípios básicos que foram considerados essenciais, e deram a si mesmos o objetivo de colocá-los em prática em algum momento ou outro, no futuro, sejam quais forem as circunstâncias do momento.

Assim, o informe da Conferência de Zaragoza aqui já mencionado poderia ter sido escrito em qualquer período. Encontra-se absolutamente fora de um recorte temporal.

Na véspera da Guerra Civil Espanhola, em relação aos problemas militares, a agitação no coração do exército, se tratou com uma frase: “Milhares de trabalhadores já passaram pelo quartel, e estão familiarizados com a guerra revolucionária moderna”.

No segundo caso, se pensava que as relações de poder entre as classes não eram importantes, e considerando como o proletariado deve atuar de forma espontânea. Elas não estão relacionadas a qualquer determinismo social, mas, pelo contrário, aos perigos da ação exemplar. Todo o problema reside então na criação do detonador certo.

A história do movimento anarquista está cheio de ações sensacionais, que eram inúteis e sangrentas. Na esperança de nutrir a Revolução, atacaram a prefeitura às dúzias: Fizeram discursos, proclamaram - muitas vezes em um ambiente de completa indiferença - sobre o comunismo libertário. Queimaram arquivos locais enquanto esperavam a polícia chegar.

“Participacionismo”  ou voluntarismo
Em ambos os casos a referência feita à Bakunin é um insulto. Muitas vezes, o movimento libertário substituiu o método científico de análise das relações entre classes por encantamentos mágicos. A natureza científica e sociológica de análise bakuninista das relações sociais e da ação política foi completamente rejeitada pelo movimento libertário.

O fracasso intelectual do movimento libertário pode ser percebido nas acusações de “marxismo” sempre que se busca introduzir a mínima noção de método científico na análise política.

Por exemplo, Malatesta disse: “Hoje, me parece que Bakunin foi na economia política e na interpretação histórica, muito marxista, me parece que sua filosofia debate sem possibilidade de resolução, a contradição entre sua concepção mecânica do universo e de sua fé, na efetividade do livre-arbítrio nos destinos do homem e do universo”.

A “concepção mecânica do Universo”, que está na mente de Malatesta, é o método dialético que faz do mundo social um todo em movimento, sobre o qual se pode determinar leis gerais da evolução. “A eficácia do livre-arbítrio” é uma ação revolucionária voluntarista. O problema pode, portanto, ser reduzido para a relação entre a ação de massa na sociedade e na ação das minorias revolucionárias.

Malatesta é incapaz de compreender a relação de interdependência que existe entre a humanidade e meio ambiente, entre o determinismo social da raça humana e sua capacidade de transformar o ambiente.

O indivíduo não pode ser separado do  ambiente em que ele/ela vive. Mesmo que o indivíduo seja largamente determinado pelo ambiente, ele/ela pode agir sobre ele e modificá-lo, sempre e quando o trabalho o leva a entender as leis ou o desenvolvimento.

Conclusão
A ação da classe trabalhadora deve ser a síntese do entendimento da “mecânica do Universo” - a mecânica da sociedade - e “a eficácia do livre-arbítrio” - ação revolucionária consciente. Aí reside o fundamento da teoria da ação revolucionária de Bakunin.

Dois Bakunins não existem - um libertário, antiautoritário e que glorifica a ação espontânea das massas; o outro 'marxista', autoritário, que defende a organização da vanguarda.

Há apenas um Bakunin, que se aplica a diferentes circunstâncias diversas vezes em princípios de ação decorrentes de uma compreensão lúcida da dialética entre as massas e as minorias revolucionárias avançadas.

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CDA-PI agora faz parte do Arquivo Bakunin

É com felicidade que nós, do Círculo de Debates Anarquistas Piauiense anunciamos que a partir deste momento passaremos a compor o Arquivo Bakunin, plataforma virtual destinada à divulgação da obra e análises de Mikhail Bakunin, assim como o fomento de estudos e pesquisas sobre a vida e obra deste autor.

É válido ressaltar os esforços que nós, do CDA-PI, estamos a realizar na tentativa de recuperar as análises e ações do anarquismo revolucionário para uma leitura da realidade brasileira, e Bakunin é peça fundamental para que estas análises sejam possíveis, uma vez que reconhecemos neste o principal teórico da linha política que defendemos.

Agradecemos imensamente o enlace, que ao nosso entender produzirá bons resultados.



BAKUNIN VIVE, E VENCERÁ!
VIVA O ANARQUISMO REVOLUCIONÁRIO!
PELA CAUSA DO POVO!

O que é o Anarquismo?

Desde junho de 2013 as TV´s, Jornais e revistas vêm fazendo uma campanha de difamação. Acusam os trabalhadores, estudantes e a juventude de “vandalismo”. Taxam os que estão nas ruas de criminosos.  Mas entre estes um alvo tem sido priorizado: os anarquistas. Desde junho a revolta popular cresce e com ela a perseguição aos anarquistas.

Nesta campanha estão juntos os grandes jornais e redes de televisão. O Governo Federal, Estadual e os Partidos de Direita (PSDB, PMDB e toda a corja restante). Também os ditos de “esquerda” (PT, PSOL, PSTU PCdoB). A Revista Veja (órgão de calúnia e difamação oficial a serviço dos ricos e poderosos) fala:  “Anarquistas: os organizadores do caos nas passeatas”. O Jornal O GLOBO faz a campanha “PF investiga atuação de grupos anarquistas baseados no Rio”. O PSTU (partido “de esquerda”) abriu uma campanha desde junho contra os anarquistas, acusando os anarquistas de “vândalos” e depois atacando de todas as formas os “Black Bloc”.

Não é por acaso que todos os partidos de esquerda e direita, a grande mídia e o Estado atacam os anarquistas. Mas não é porque os anarquistas realizam atos de violência. Ninguém é mais violento que a polícia, não só nas manifestações, mas nas praças, favelas e ruas e campos do Brasil. Nem porque os anarquistas levam o “caos” às ruas (os governantes e empreiteiros já fazem isso).

Eles combatem o anarquismo porque o anarquismo representa uma alternativa de luta e organização para todo o povo. O que é, então, o anarquismo?

A luta contra a exploração e dominação: As ideias anarquistas

Anarquia é Ordem, Governo é Guerra Civil!” Essa ideia foi formulada pelo pensador anarquista francês Pierre-Joseph Proudhon. O pensador e revolucionário anarquista russo Mikhail Bakunin defende: “liberdade sem socialismo é privilégio e injustiça; socialismo sem liberdade é escravidão e brutalidade”. Essas duas frases expressam as principais ideais do anarquismo. O anarquismo luta pelo socialismo, ou seja, pela igualdade, contra a pobreza e exploração.

O anarquismo quer acabar com as injustiças sociais e econômicas. O anarquismo também luta pela liberdade dos trabalhadores e dos povos oprimidos pelas ditaduras e falsas democracias.

Os anarquistas levaram suas ideias à prática através de duas maneiras. Através das  organizações de defesa dos trabalhadores (sociedades de resistência, cooperativas e sindicatos) e também através das organizações revolucionárias.

Nesse sentido, a igualdade era praticada na luta diária contra a pobreza, a exploração. Como? Reivindicando maiores salários, menores jornadas de trabalho e direitos iguais para homens e mulheres.  Os anarquistas ajudaram a construir os sindicatos e organizações de luta dos trabalhadores em diversas partes do mundo. Na Europa, nos Estados Unidos da América, no Brasil e América Latina.

Na defesa da justiça e da igualdade os anarquistas lutaram contra bancos, empresas, indústrias que sempre exploraram os trabalhadores. Os anarquistas também defenderam a liberdade dos trabalhadores. Os ricos e poderosos sempre defenderam sua própria liberdade. Mas sempre que o povo luta, os ricos e poderosos suprimem a liberdade com autoritarismo e prisões.

Como acontece hoje no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, a polícia usa e abusa do poder. Mata à vontade. A liberdade de votar é uma piada. As milícias, a PM e as prisões e execuções sumárias mostram que não existe liberdade para o povo.

Ao mesmo tempo, há guerra nas favelas contra os pobres, e guerra nos campos. Uma guerra de extermínio. Dezenas de indígenas e trabalhadores rurais são assassinados. Milhares de jovens pobres são executados pela polícia todos os anos. Existe uma guerra do Estado contra o povo.

Os anarquistas querem a Paz, e isso significa que é preciso Luta. Luta para desarmar os opressores, para impedir que sua violência fique impune. Assim os anarquistas lutaram e lutam contra Monarquias, Ditaduras e Governos autoritários, sempre indicando que os trabalhadores tem a capacidade política de governar a sociedade.

Lutam por paz, justiça e liberdade. E também lutaram e lutam pelo fim do capitalismo, construindo uma sociedade igualitária, sem exploração. Justiça e Liberdade, essas são as ideias que os anarquistas levam na prática na sua luta. Mas como os anarquistas agem?

A política dos anarquistas: Ação direta, a greve geral e a revolução popular

Os anarquistas entendem que a sociedade é dividida em classes. Uma classe controla a riqueza e o poder, econômico e político. Essa classe dominante explora e oprime os trabalhadores. Essa classe controla o Estado, os bancos, a polícia, as prisões, o sistema de ensino. O único meio que a classe oprimida tem para manter seus direitos e interesses é sua luta e organização.

Por isso, os anarquistas entendem que essa classe oprimida (composta pelos trabalhadores do campo e da cidade, pelos pobres, negros e indígenas) deve lutar para defender seus direitos, pois nenhum Governo o fará. Essa visão de mundo é sintetizada no conceito de ação direta.

Ao contrário do que tem sido divulgado, e do que muitos pensam, ação direta não significa apenas “destruir ou confrontar” (é isso também, mas não só isso). Segundo um grande sindicalista revolucionário francês “A ação direta é uma noção de tal clareza, que é definida e explicada por sua própria declaração. Significa que a classe trabalhadora, na reação constante contra o meio ambiente atual, não espera nada de homens, ou poderes superiores a sua força, mas ele cria suas próprias condições de luta em si mesmo e chama os seus meios de ação  (…) A Ação Direta implica que a classe trabalhadora invoca noções de liberdade e autonomia, em vez de se dobrar ao princípio de autoridade, pivô do mundo moderno – e o democratismo sua última expressão –  por meio do qual seres humanos, acorrentados por mil laços, tanto morais e materiais, são  castrados de qualquer possibilidade de vontade e iniciativa”.

Quer dizer, a ação direta significa que os membros da classe dominada tomaram consciência que precisam agir; que não devem esperar sua libertação de líderes, Partidos ou Governos “salvadores”. Não esperam nada da farsa eleitoral “democrática”. Ação direta expressa que os trabalhadores saíram do estado de apatia e passaram a ação. E isso exige organização e estratégia, objetivos pelos quais lutar e métodos coletivos.

Já que não é através de governos, como conseguiremos as mudanças que queremos? A política da ação direta dos anarquistas é guiada por dois objetivos. Os objetivos imediatos de melhorias parciais das condições de vida, aqueles que podem ser conquistados dentro da sociedade capitalista. E o seu objetivo maior, que é a derrubada da sociedade capitalista e a construção de uma sociedade socialista, que depende de uma revolução e da tomada do poder pelo povo. É a Liberdade e Igualdade para todos os trabalhadores.

Quais são os objetivos que lutamos dentro da sociedade capitalista? Melhores salários, direitos iguais, distribuição de terra. Hoje defendemos o passe livre e o transporte coletivo, a educação e saúde pública, melhores condições de trabalho nas escolas para professores e estudantes. Este programa reivindicativo visa orientar a luta e organização e a criação do poder coletivo da classe oprimida. Por isso vamos às ruas, por isso atuamos nas lutas dos sindicatos e nas greves.

Como lutamos? Lutamos através de protestos, ocupações, passeatas. Mas o momento mais importante da política dos anarquistas é a greve geral. É quando os trabalhadores se lançam numa luta coletiva nacional para parar a produção e mostrar sua força. A greve geral exige um alto grau de organização. Ela eleva o nível e consciência. “A luta educa”, por isso a rua é a escola dos anarquistas.

A greve geral mostra a força da classe dominada e dos trabalhadores. Ao mesmo tempo ela obriga os patrões e governos a ceder. Como aconteceu em 2013 em que os protestos forçaram a redução das passagens dos transportes coletivos com o levante popular. A greve geral potencializa ainda mais essa força popular.

A greve geral se opõe a estratégia de eleger deputados, vereadores, presidentes. Ao invés dos trabalhadores prepararem candidatos para eleições, os anarquistas entendem que eles devem investir suas energias nas greves e lutas.  Significa que acreditamos que somente pelo poder popular, que somente apostamos no desenvolvimento da força coletiva dos oprimidos em luta contra o capitalismo e o Estado.

Mas os anarquistas não lutam apenas por conquistas para hoje. Não lutamos apenas por um programa reivindicativo. Lutamos por uma nova sociedade. Por isso entendemos que esse programa revolucionário exige o fim do Estado e do capitalismo.  Nós queremos o autogoverno dos trabalhadores e dos oprimidos e o socialismo. Esse programa máximo defende para a sociedade revolucionária:

1) que todas as terra que hoje são concentradas nãos mãos de empresas, nacionais e estrangeiras, serão distribuídas justamente entre os trabalhadores rurais e povos tradicionais:

2) todas as empresas estrangeiras e nacionais privadas (fábricas, bancos, serviços financeiros, hotéis) que exploram recursos naturais e atividades econômicas serão coletivizadas, não serão mais propriedade individual ou de corporações, pertencerão aos trabalhadores e não funcionarão só para dar lucro, mas para atender aos interesses públicos e sociais;

3) Todas as instituições políticas e policiais (cartórios, bancos, prefeituras, câmaras legislativas serão destruídas e extintas), todas as dívidas de trabalhadores e pessoas pobres serão canceladas;

4) As prefeituras, câmaras de vereadores e o congresso nacional, antros de corrupção, são extintos. O governo deixa de ser patrimônio dos ricos e poderosos e serão substituídos por Conselhos Populares, com representantes eleitos nas organizações populares para um Congresso do Povo. Os representantes eleitos deverão seguir as decisões dos conselhos de base; deverão receber um salário mínimo nacional e não terão privilégios especiais como acontece hoje.

5) Tomar todo o sistema educacional, de saúde, transporte e serviços públicos, acabando com o domínio do capital privado e garantindo que toda a população tenho acesso gratuito a esses serviços.

Esses são os principais pontos de nosso programa. Essa revolução é possível? Sim. Temos um longo caminho, mas o primeiro passo começa com a organização e a luta popular hoje. Os anarquistas acreditam então que o povo deve continuar lutando e aperfeiçoando sua organização.

Quando essa organização alcançar um nível superior, nacional, geral ele consegue realizar a revolução e coletivizar as terras, as indústrias, o sistema financeiro criando o seu autogoverno. Por isso o Estado, a mídia e os partidos mentem e acusam os anarquistas. Porque eles são uma ameaça a seus privilégios e seus crimes.

Todo o Poder ao Povo!
Venceremos!



* Texto retirado do Jornal Causa do Povo, n. 69 (Novembro de 2013)

Sobre a ilusão da homogeneidade Anarquista

Círculo de Debates Anarquistas Piauiense, em 11.09.2015

É comum que em formações políticas, o credo da homogeneidade anarquista seja proferido com tanta frequência que se torna argumentação incontestável entre estes. Desejamos por meio deste texto, apontar algumas contradições na defesa desta homogeneidade, e suas implicações na realidade.
Anarquistas aceitam e reconhecem facilmente as divergências de outras correntes socialistas. Trotskystas e Stalinistas, Autonomistas e Maoístas, dentre outros. Mesmo com esta análise, sustentam a teoria da homogeneidade anarquista, o que é dúbio e obscurantista para outros militantes em formação.
Esta premissa tem origem de duas formas: 1. Da falta de conhecimento do desenvolvimento teórico-político do anarquismo, geralmente reproduzido por outros anarquistas que também não o conhecem, formados na escola dos “anarcologistas” acríticos, como Horowitz, Arvon, Woodcock e Moriyón ou 2. que não desejam que outros saibam de suas lutas, dissidências, erros e conflitos internos para manter a paz e a boa aparência entre os anarquistas e seus opositores de outras organizações e teorias políticas, mesmo que o preço seja caro, como a História nos mostra. 
O que notamos é que os que partilham desta ideia, ou estão enganando ou estão sendo enganados.
A palavra chave (e que reduz o debate ao nível pueril) é “sectarismo”. 
Neste panorama, “sectário” é aquele que reconhece e expõe as contradições do anarquismo em nome de uma autocrítica que anseia em romper com suas degenerações internas e construir uma militância que busque coerência entre teoria e prática; “Não sectário” é aquele deseja a “união dos anarquistas” a nível político e organizacional independente de sua corrente teórica (sendo por vezes admitidos liberais radicais que se autointitulam anarquistas, baseados na obra de outros liberais radicais que, com o auxílio dos anarcologistas, passaram a ser tratados como anarquistas, como Thoreau, Stirner, Nietzsche dentre outros).
Na abstração é possível unir as correntes do anarquismo em um só “movimento”. Mas no plano real, onde a lógica do capital e as contradições de classe exigem de todos os militantes revolucionários o compromisso fundamental com sua organização, com seus companheiros e companheiras, com sua linha e atuação política, a ideia esbarra no vazio, na ineficácia e em debates estéreis, que por sua vez produzem ações vazias, ineficazes e estéreis. 
Não há o que temer em combater o mito da homogeneidade. Admitir falhas auxilia na evolução teórica e política do anarquismo. Negá-las, em nome do “movimento anarquista” retarda, confunde e degenera as ações feitas a partir dessa leitura.
Da mesma forma que admitimos as dissidências em outras correntes do socialismo, admitamos as nossas; não somente isto: Tomemos partido. Façamos. Denunciemos. O mito da homogeneidade oculta o fato de que cada uma das correntes anarquistas possui inimigos, métodos e programas distintos, e sendo a prática o critério da verdade, a História mostrará qual o caminho correto a se tomar para a tarefa que recai sobre nossos ombros: A organização do povo para a derrubada violenta do capitalismo e do Estado, objetivando a construção de uma nova lógica organizacional da sociedade.